“A arte do hip hop como incentivo à educação”

Originalmente em https://observatorio3setor.org.br/carrossel/a-arte-do-hip-hop-como-incentivo-a-educacao/

Nathalia Di Oliveira 20 de janeiro de 2017

Permanecer na escola nos tempos atuais tem sido cada vez mais difícil. Com a crise econômica, muitos jovens se sentem obrigados a deixar os estudos para colaborar com as finanças domésticas. Além disso, é comum que os estudantes não se identifiquem com o conteúdo que costuma ser transmitido nas escolas, principalmente nas públicas.

Para diminuir a evasão escolar e motivar estudantes da periferia de Diadema, na Grande São Paulo, surgiu o projeto Matéria Rima, que ajuda os alunos a comporem músicas com o conteúdo das matérias ensinadas em sala de aula, facilitando a memorização e aprendizagem das crianças.

O Fundador

O Matéria Rima foi fundado pelo músico Jodson do Nascimento Silva, mais conhecido como MC Joul. Nascido em Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, Joul veio para São Paulo com apenas um ano de idade para morar em Diadema.

Naquela época, por volta dos anos 80, a região de Diadema era conhecida por ser bastante violenta. Joul chegou a sofrer bullying na escola e não estava conseguindo se adaptar, a ponto de abandonar os estudos. Mas, ao ver a tristeza da mãe com sua decisão, ele voltou para a escola e buscou uma forma de conseguir tirar boas notas.

Foi então que começou a aprimorar o seu contato com o hip hop. Aos 13 anos, escreveu seu primeiro rap como forma de estudo para uma disciplina. Sua primeira nota máxima foi motivo de orgulho e desconfiança dos professores: “Minha professora achou que eu tinha colado na prova, então tive que cantar para ela, para a escola toda, e quando eu vi, com o passar do tempo, já estava cantando para a cidade toda, até na Alemanha, França, África e aí minha vida mudou de verdade”, afirmou.

Joul disse que a leitura foi a principal ferramenta para melhorar sua autoestima e entender o tipo de violência que estava sofrendo entre os colegas na escola. “Eu precisei ampliar o meu conhecimento para passar as informações para outras pessoas através da música. Já que a educação mudou a minha vida, eu vi que poderia mudar a vida de outras pessoas”.

Em 2002, foi fundado o Matéria Rima, em parceria com amigos fãs da arte de rua.

O Matéria Rima

O nome ‘Matéria Rima’ foi dado por conta das matérias curriculares que eram transformadas em rap. Esse projeto foi uma forma de fazer com que os jovens de regiões periféricas passassem a gostar do ambiente escolar e percebessem a importância de respeitar o professor, os colegas e a própria família. Diante de uma situação financeira complicada, é difícil colocar um adolescente na sociedade como um cidadão consciente e participativo, e esse é um dos focos do grupo.

“Hoje os indicadores da área de educação das regiões onde atuamos melhoraram, o índice de aprendizagem aumentou e as crianças vão pra escola com mais vontade”, declarou Mc Joul. “Nós estamos conseguindo transformar outras vidas e fazemos da Matéria Rima a nossa razão de viver”, conclui.

As principais fontes de renda do grupo são uma parceria com a Prefeitura de Diadema e apresentações em diversos palcos e centros culturais.

Nas escolas

O projeto está ligado à coordenação das escolas onde está presente. Atualmente, são 16 escolas, com mais de mil crianças participando. “Nós queremos entrar de uma maneira mais efetiva nas escolas e auxiliar nos estudos das crianças”.

Essas crianças, a maioria das turmas de quarto e quinto ano do Ensino Fundamental I, participam de maneira significativa no projeto. Exemplo disso foi a cartilha ‘No ritmo da aula’. Esse material é composto por um DVD que contém 15 músicas e videoclipes feitos em conjunto com alunos e professores. Cada letra tem um plano de aula que outros professores podem utilizar.

Os vídeos da cartilha estão disponíveis no canal do Matéria Rima no YouTube.

Ainda está em andamento uma possível parceria com o Estado de São Paulo, para que o projeto alcance todo o Ensino Fundamental das escolas estaduais.

Reconhecimento

O Matéria Rima ganhou o prêmio Itaú Unicef 2015 como uma das práticas educativas mais importantes do país. Foram mais de dois mil projetos inscritos. “Nossa maior conquista é saber que a gente está tendo um impacto na vida de muitas crianças”, disse Mc Joul.

“Muitas vezes as escolas querem passar uma metodologia que não funciona e a gente precisa ter sensibilidade e ter respeito com as crianças. Temos que ouvir o que eles têm para nos dizer; isso contribui para toda a sociedade”, conclui.

Para o projeto se expandir para mais escolas, é necessário formar mais profissionais inspirados pelo hip hop, na dança de rua, grafite, rap, entre outros.

Em 2017, o Matéria Rima está comemorando 15 anos de existência e, para isso, está realizando uma exposição no Conjunto Nacional, na Av. Paulista, em São Paulo.

“Na exposição está sendo mostrada a história detalhada desde o início da minha vida até a criação do Matéria Rima, com as parcerias e toda a trajetória.”

Para este ano, já está sendo providenciado um documentário contando toda essa trajetória, e também um livro. “Estamos buscando melhorar e ampliar nosso incentivo para que a criança tenha mais oportunidade, e mostrar para o poder público o quão importante é esse tipo de investimento”, conclui.

Publicado por

Ricardo Pinheiro

Um estudante de Biblioteconomia devotado a articular e consolidar também como futuro profissional o humanista que estou desenvolvendo, como aprendiz, em meu ser.

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